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Obstáculos para a educação

  • barbarablanco
  • May 9, 2019
  • 7 min read

Updated: Jun 10, 2019

Bárbara Blanco

Gabriel Meula, aluno modelo da Escola Estadual Oscar Thompson, e sua diretora Maria do Carmo de Lalana.

A Escola Estadual Oscar Thompson é um marco do distrito do Cambuci. Fundada em 1908, ela se tornou referência e busca melhorar. Em 2015, a escola pública, que atende apenas o Fundamental II, ou seja, turmas de sexto ao nono ano, se tornou integral. Desde essa mudança, eles têm feito vários projetos de desenvolvimento com foco na protagonização dos seus alunos.

Projetos

Gabriel Queiroz Meula, 14 anos, mudou para o Cambuci em 2017 e hoje cursa o nono ano na Oscar Thompson. Desde que entrou na escola, vem se destacando e se desenvolvendo, não só como aluno mas também como um líder. Ele faz parte de todos os projetos de destaque do colégio e conta para a reportagem um pouco sobre cada.

O seu preferido, é o de eletivas. A diretora, Maria do Carmo Zanaro de Lalana, 43 anos, explica que os professores criam os projetos a partir das dificuldades dos alunos do ano anterior. Esse processo ocorre duas vezes no ano, no início de cada semestre do ano letivo. Dessa forma eles conseguem aprofundar os temas de uma forma diferente, mais lúdica e concreta. A partir disso, os alunos devem escolher em qual querem participar e conseguem, por meio dele, entender os conteúdos de formas criativas.

O escolhido de Gabriel foi o de Direitos Humanos, onde ele conta que tentam entender esse conceito através de fotografias. O menino ainda diz que embora goste desse, preferia ter feito a de educação física.

Apesar deste ser o seu favorito, outro projeto que ele diz ser o que mais vê resultados é o de nivelamento, o qual Maria do Carmo esclarece ser a recuperação desses estudantes, não de conteúdos do ano, mas sim de anos anteriores. Dessa forma, no nivelamento, por meio do plano de ensino preparado pelo próprio professor, ele aprende matérias que teve dificuldade anteriormente. O único problema, que ambos os alunos e a direção veem nesse projeto, é que os estudantes são separados em duas turmas, alunos com notas acima da média e abaixo da média, de acordo com suas dificuldades gerais. Porém, por não existirem salas e nem professores suficientes, a turma acaba se tornando generalizada em todas as disciplinas, muitas vezes não atendendo as necessidades individuais de cada um.

Os alunos Atrás do Básico precisam de um atendimento emergencial, por isso, os do Avançado não ganham tanta atenção. "A gente não tem professor suficiente, então, o que a escola tem que fazer, é dar prioridade para quem tem dificuldade”, diz a diretora.

Gabriel, que está no Avançado, comenta que o objetivo da escola é manter todos no mesmo nível. "Todos têm a mesma capacidade, só que alguns têm dificuldade e outros não”, acrescenta o menino.

O aluno conta que existem também os projetos esportivos, como o Interclasse que dura o ano todo, aulas semanais em laboratórios e até uma comissão estudantil para a formatura da turma de nono ano, onde eles buscam arrecadar dinheiro por ações na Festa Junina da própria escola.

A diretora insiste em destacar o principal objetivo da escola, que é despertar o protagonismo nos alunos. Alguns projetos específicos, como o dos “laranjinhas”, ajudam a desenvolver essa autonomia desejada nos jovens.

O grupo dos “laranjinhas” é composto por alunos de todos os anos, principalmente do nono, e eles se tornam responsáveis por uma série de atividades para incentivar o acolhimento, seja de pais, durante as reuniões, seja dos novos alunos. Para recepcionar os novos alunos os “laranjinhas” são escolhidos no ano anterior.

Para ser parte do grupo, Maria do Carmo conta que o aluno deve ser solidário, ter boas notas e principalmente, deve ser um protagonista. Todos passam por um preparo durante as férias para que no dia do acolhimento, tudo seja conduzido por eles com dinâmicas que os próprios jovens acolhedores programam. "A gente percebe uma diferença nítida de quem participa e de quem não pôde vir no dia”, conta a diretora.

O projeto gera empatia e tolerância nos alunos, já que trabalham tentando entender e se aproximar do outro. Para Gabriel, a discriminação não tem vez. Eles todos são incentivados por todo o corpo docente a acolher qualquer aluno e para aceitá-lo apesar das diferenças. Mesmo assim, ainda existem casos de intolerância por existirem todos os tipos de estudantes, desde alunos transgêneros até alunos que vieram da Síria fugindo da guerra, além de representantes de todas as religiões e classes sociais. Por esses fatores, a diretora conta que a todo momento é preciso fazer intervenções: "É uma panela de pressão."

O colégio, até 2015, tinha inclusive fama e falta de adesão por conta de brigas e casos de agressões físicas e psicológicas, mas desde a mudança de sua metodologia, as ocorrências foram cessando até se tornarem bem menos frequentes. Hoje, a escola tem até mesmo fila de espera, por tantos alunos que buscam estudar lá.

Outro projeto muito importante para o desenvolvimento da autonomia e do protagonismo no aluno é uma aula chamada “Projeto Vida”, onde os jovens devem visar um sonho a curto, médio e longo prazo e aprendendo a se programar para atingir essas metas. Essa se tornou uma disciplina curricular deles, onde uma professora guia eles de forma geral e em paralelo, cada aluno têm um tutor, escolhido por ele próprio, que o acompanha pessoalmente e tenta, junto com o estudante, trabalhar todo e qualquer modo de atingir seus objetivos futuros e se manter bem na escola.

Individualmente, a tutoria ajuda os alunos a se saírem bem na escola e a atingirem suas metas do Projeto Vida, como se o tutor fosse um parente da família. Todo mês tem uma tutoria coletiva, onde os alunos se juntam com o tutor e ele fala com todos, mas durante o mês, os responsáveis têm que fazer pelo menos uma individual.

Dessa forma, eles aprendem desde cedo a ter noção das suas metas e como se preparar para que elas se tornem reais. Gabriel, por exemplo, sonha em fazer ensino médio em alguma Etec como a Getúlio Vargas, pois, segundo ele, são as melhores e depois conseguir fazer uma faculdade de TI. Para isso, ele se envolve totalmente nas atividades escolares e mantém uma rotina de estudos diária.

Maria do Carmo conta que os resultados obtidos dos alunos desde a inserção desse método são palpáveis. Apenas no distrito do Cambuci, 36,53% dos jovens não concluem o ensino médio segundo pesquisa do Infocidade de 2017, o índice mais problemático na área de educação. Mas com essa mudança, a Oscar Thompson conseguiu ver todos os seus ex-alunos que fizeram parte do período integral em 2018 frequentarem escolas de ensino médio e muitos dos anos anteriores até entrarem em uma faculdade.

Infraestrutura e materiais

O Colégio consegue, como pode, suprir as necessidades dos alunos. A administração pontual não deixa que ocorram casos de aulas vagas, sempre tem na programação algum professor para substituir outro. O que está em suas mãos, a diretora faz.

O corte das apostilas para as escolas estaduais é um exemplo de desafio que a diretora Maria do Carmo passa ao longo de sua gestão: “O professor é quem está tendo dificuldade, porque ele se habituou a um material que ele deixou de ter”. Ela conta que a solução está sendo usar o livro didático, que antes era apenas um material de apoio, como objeto de estudo principal. Outra solução seriam exercícios preparados pelos professores, mas a escola não tem uma impressora.

Apesar de todos os esforços da escola, a dependência da Secretaria da Educação acaba os prejudicando. Um grande exemplo é o laboratório de informática, um dos grandes desejos de Gabriel e muitos outros, que começou a ser construída em 2015, mas até hoje não foram enviados os computadores. Mesmo com as insistentes cobranças da coordenação e diretoria, as justificativas nunca chegam. Esse atraso acaba prejudicando os alunos, ainda mais hoje em dia onde o público é muito tecnológico, às vezes o colégio fica para trás. "Nos esforçamos muito, mas tem um momento que a criatividade do professor se esgota. Os recursos que a gente recebe rotineiramente não dão conta da parte tecnológica”, esclarece a diretora.

Alimentação

A escola oferece 3 refeições: almoço das 12h10 às 13h20; café da manhã antes da entrada às 7h40; lanche da tarde 15 minutos antes da saída às 15h55.

Todas as refeições são pré-determinado pela Secretaria da Educação e organizadas pela Vice-Diretora da escola. A diretora afirma que a Secretaria costuma entregar os produtos semanalmente, mas que às vezes acontece de eles precisarem fazer alterações no cardápio devido ao alimento não chegar a tempo de ser feito para as crianças.

Gabriel conta inclusive que existe opção vegetariana no almoço. “Tem alguns alunos que às vezes reclamam do cardápio, mas paciência, traz alguma coisa de casa”, comenta o menino. Já nos horários de lanches, ele diz que eles costumam receber bolachas e leite.

Segurança

A diretora conta que após a tragédia na Escola Estadual Professor Raul Brasil em Suzano, no começo deste ano, onde dois alunos mataram 10 pessoas dentro da escola, o clima da Oscar Thompson ficou pesado. Pais desesperados pela garantia que seus filhos estariam em segurança e alunos apavorados com a notícia.

Antes, a entrada e saída do colégio era mais tranquila até a tragédia de Suzano, a partir dela, a escola é totalmente fechada. As secretárias anotam os nomes e RG de todos que entram, mas essas são as únicas providências cabíveis já que a escola não conta com câmeras de segurança.

Rodas de conversas sobre o que aconteceu na Escola Estadual Professor Raul Brasil, foram feitas para que os alunos se conscientizassem de tudo e se tranquilizarem. “Paramos algumas horas e fizemos muitas conversas individuais e coletivas com eles, todos ficaram com muito medo”, explica a diretora.

Limites

Maria do Carmo é funcionária da rede estadual há mais de 22 anos e conta que só recentemente conseguiu compreender que existem algumas coisas que estão fora do seu alcance, como a própria boa vontade da Secretaria de Educação e outros problemas relacionados diretamente ao cotidiano dos alunos, principalmente os familiares.

Ela conta que, com a idade que eles trabalham, tudo têm impacto e é preciso extrema responsabilidade a todo o tempo. Apesar de querer ajudar o máximo possível, Maria do Carmo revela ter estabelecido limites consigo mesma para que ela tivesse o pé no chão sobre o fato de não poder mudar o mundo: "Nós temos realidades muito complicadas aqui. O mundo agressivo em que os alunos vivem, a falta de segurança que eles veem, nós não vamos conseguir mudar isso.”

Ainda de acordo com ela, os alunos com mais problemas escolares geralmente são os que têm transtornos em casa com a família, causando na maioria das vezes alunos com enorme dificuldade, já que uma coisa estaria ligada a outra. Como ela falou, existe um limite dentro do que pode ser feito. Embora eles não tenham um acompanhamento psicológico próprio, têm parcerias e às vezes indicam para algum psicólogo ou buscam eles mesmos falarem com os pais.

Por isso também, a escola busca manter reuniões e contato com os parentes dos estudantes, além de todas as atividades de desenvolvimento pessoal, à procura de resultados na vida deles como um todo.

 
 
 

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