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A arte de fazer teatro hoje em dia

  • barbarablanco
  • Nov 7, 2018
  • 4 min read

Bárbara Blanco

João Francisco Freitas


Peça "Era uma Era" da Cia Mungunzá de Teatro em São Paulo.

Com a crise vivida no Brasil, o país, que antes já não investia o suficiente, parece cada vez desvalorizar mais sua própria arte, especialmente quando o assunto é teatro independente. Embora seja um país rico em diversas culturas, não promove muitas ações em favor de seu lado artístico, o que se torna evidente em seus percentuais feitos na pesquisa nacional em 2007 e refeita posteriormente em 2015 pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) em parceria com o Instituto Ipsos.

Apesar de os números terem crescido nesses oito anos, eles ainda são muito pequenos em comparação a outros países. Esse aumento se deve muito ao avanço tecnológico, que ao contrário do imaginado, levou mais informações sobre essa arte para todos, ou seja, trouxe mais visibilidade e, consequentemente, mais público. Enquanto em 2007 a porcentagem de pessoas que já teriam ido ao teatro era de 6%, em 2015 esse número passou para 12%.

Na contemporaneidade, o teatro já se mostrou válido tanto economicamente, quanto pedagogicamente, principalmente para a formação de crianças. Ele é, mais do que qualquer coisa, uma forma de desenvolvimento pessoal e social e por essa sua força, ele ganhou inclusive um cunho político e ativista.

Como qualquer outra arte, o teatro existe a base do amor. Isso é muito visível pelo discurso dos atores que o tem como profissão. Por isso, entrevistamos três atores da Cia Mungunzá de Teatro e uma atriz do Teatro Lusco-Fusco.

Carolina Silveira (22) expôs para nós um pouco da sua história no teatro e o que mais se destaca é sua completa paixão ao falar com a equipe. Além de atriz, ela é também educadora e conta como essa é uma ferramenta de mudança e aprendizado constante: “Eu vejo crianças que por meio do teatro aprenderam a respeitar o outro, abriram seus olhos para racismo, machismo, homofobia. Ele te muda enquanto ser humano. Ao fazer teatro, precisamos tentar entender os motivos de cada personagem sem nunca julgá-lo, com esse exercício, acabamos criando muita empatia pelo outro.”

A reportagem foi assistir à peça “Era uma Era” da Cia Mungunzá de Teatro e é possível perceber o quanto eles engajam os problemas sociais nas suas peças, como uma alerta ou conscientização do público, segundo eles, isso é uma peça-chave na hora de fazer teatro.

Após assistir, falamos com Marcos Felipe (35), Lucas Mendes Beda (32) e Pedro Augusto de Oliveira (31) e para um melhor esclarecimento e fidelidade, agora acompanhem as respostas dos quatro atores entrevistados.

Qual a representação do teatro para você?

Pedro: “A arte está no campo de expressão. É onde eu realmente consigo me expressar e tentar fazer algo para mudar a sociedade.”

Carolina: “Muito amor e afeto. O teatro é muito acolhedor. Ele é sempre muito coletivo. Eu sempre tive muito medo de me sentir sozinha, o teatro abandona esse meu medo.”

Quais as maiores dificuldades dessa carreira?

Marcos: “Estamos em um país periférico, que não entende o valor cultural como um bem para o futuro, sendo assim, as dificuldades sempre permanecerão. O teatro além de um manifesto como arte, é também um lugar de resistência contra essas dificuldades.”

Pedro: “Você mata um leão por dia, vai passando dificuldade sempre, tanto de fazer a coisa acontecer, quanto de perspectiva também. O presidente que entrou não dará praticamente apoio nenhum para essa arte. Quer maior dificuldade que essa?”

Os avanços tecnológicos interferem no teatro?

Lucas: “Hoje temos possibilidade da introdução da tecnologia nos espetáculos, a tecnologia por meio da arte. Ela sempre foi uma pioneira porque reinventou o campo da tecnologia. Ela está sempre interagindo com a tecnologia.”

Carolina: “O teatro sobreviveu, sobrevive e sobreviverá. As duas coisas não precisam ser inimigas, elas podem usar uma da outra. O gosto pelo teatro passa por cima de tudo isso.”

Existe algum incentivo do governo para que a população frequente esse tipo de arte?

Lucas:“Muito poucos. Falta também incentivo no campo da educação para que as pessoas entendam a arte como o uso do dia a dia. Temos que ter um incentivo para a criação de público, para que se entenda a necessidade da arte e da cultura na formação do indivíduo.”

Pedro: “Existe, só que as políticas públicas direcionadas a arte são cada vez mais escassas. O governo se coloca como um estado mínimo e não encara mais a arte como economia e sim como apenas uma forma de entretenimento.”

Trabalhando exclusivamente como ator, você consegue se sustentar?

Carolina: “Eu não. Tem gente que sim, mas a maioria tem outro emprego na área. Apesar de ser difícil, enquanto você não largar todo o resto para isso, você nunca vai viver de arte.”

Marcos: “Me mantenho com isso, mas sei que o faço pois estou em um lugar de privilégio e por isso entende-se tudo, a cor da minha pele, sou branco; os privilégios que eu tive para estudar; minha heteronormatividade.”

O teatro mudou sua vida?

Lucas: “O teatro mudou minha vida, pensamentos, a maneira de olhar o outro, de entender desde questões políticas e estéticas. Me ajuda muito a ser um cidadão, um indivíduo de mente aberta”

Carolina: “Muito. Foi quando eu comecei a ter que me entender. Em cada momento no teatro nós somos expostos a coisas em nós mesmos que muitas vezes não estamos preparados para encarar, então, eu realmente comecei a me conhecer com o teatro.”

O teatro é visto também como um crítica social?

Lucas: “A arte não necessariamente nasceu de uma crítica social, mas quando a gente entendeu a capacidade que ela pode gerar no outro, isso tornou uma guerra. Os artistas sempre tiveram um lado ativistas. O teatro luta contra essa cultura hegemônica e busca o entendimento do outro.”

Pedro:“Se ele não for uma crítica social, torna-se um teatro vazio. Se a arte não contestar as coisas que estão acontecendo na sociedade, não vão ter outros espaços para fazer isso. A gente aqui faz um ‘artevismo’, somos ativistas da arte, nosso teatro tem um cunho social e político bem forte.”

 
 
 

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